
Penso no quão complexo é o pensar. No quão doloroso e desgastante se torna esse ato mecânico que me toma, me seduz, me tem por completo. E, por mais que às vezes doa, me vejo dependente, viciada e completamente dominada pela necessidade do pensamento, pelo pensar nos outros, pelo pensar em tudo, pelo pensar na gente que talvez nem exista, pelo pensar no tempo que me envelhece e nos desejos que me transformam.
Penso na tristeza e solidão que deve ser chegar à velhice e não pensar em alguém, mesmo que o isolamento seja bom às vezes. Chegar em uma certa idade e não ter de quem lembrar, alguém que fez toda a diferença no seu passado, que te fez mudar, te fez agir. É, pode ser extremamente triste não pensar em alguém, mas vale a certeza de que alguém pensa em você. Eu, talvez. Quero poder te dar o prazer do confortamento quando nada parecer ter sentido pra você. E faço isso simplesmente por ter certeza de que alguém, seja quem for, você ou qualquer outra pessoa, pensa em mim de vez em quando.
Posso até estar errada, mas essa certeza teima em me seguir e me conforta quando preciso. É bom pensar que alguém pensa em mim na hora de dormir, na hora de acordar, na hora de sair de casa. Alguém deve pensar em mim também na hora de ouvir música, de tocar violão, na hora de cantar. Alguém pensa em mim na hora de atender o telefone, na hora de entrar na internet, na hora de tomar açaí ou comer pão de queijo. Alguém pensa em mim na hora de escrever, na hora de chorar, na hora de rir.
Sabe, pode até ser que não exista ninguém que pense em mim na hora de fazer tudo isso, mas imaginar que existe a mais remota possibilidade de isso acontecer já me faz feliz. Sim, a possibilidade existe, pois estou viva e vivo, mesmo que às vezes não pareça. Sou amor e amo, mesmo que não seja benéfico. Sou pensamentos e penso, porque isso aí já é inevitável.