sábado, 22 de janeiro de 2011

O que se há de fazer?




- Cadê o seu abrigo, aquele que estava prestes a partir e te deixar sem paz de espírito?
- Foi-se.
- Cadê aquele sentimento que te sufocava?
- Foice.

domingo, 16 de janeiro de 2011

Ao anjo com olhos de noite




Te encontrei na parte mais clara do céu. Te dei um nome, peguei emprestado um pouco de cor pra me colorir - eu que andava tão pálida, me faltava sangue, me faltava força -, destaquei seu cheiro na memória, guardei seu rosto no meio das melhores lembranças e me permiti lembrá-lo sempre que se fez necessário. Te toquei com a ponta dos dedos com medo de te ferir, te assustar, com medo de que você fosse ilusão. Agora te descobri como sendo real. Sonhei com você, pensei ter ouvido a sua voz, fiz da sua existência o meu ponto de referência, eu considerei sua opinião mais relevante que a minha, eu me modelei. Te aluguei, desabafei, corri ao seu encontro, me esqueci no seu abraço, no seu perfume, no seu riso, na sua promessa. Te privatizei e você sabe. Sofremos ao mesmo tempo uma dor parecida, com uma causa praticamente idêntica, com um sentimento cruel. Sofremos e nos ouvimos, nos confortamos. Sonhamos. Fui seu diário e você o meu. Cantamos no mesmo tom - ainda ouve? Nos ouço cantando até agora.
Eu preciso te ver, te sentir perto e isso é devido ao fato de você ser de minha propriedade e nós termos plena consciência disso. E eu ainda posso te ver (sorrindo, me olhando com esses olhos noturnos), posso te ouvir (cantando, me acariciando o rosto com essas notas leves e quentes), posso te ter ao meu lado, sentir sua presença forte, ímpar. Tudo isso porque nos pertencemos. Tudo isso porque você é meu - e só meu! - anjo de calça jeans.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Já diria Anitelli...



"Todo sopro que apaga uma chama reacende o que for pra ficar."
Né?

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Plano principal






Eu tinha um plano: sorrir. Se nada desse certo, eu iria sorrir. Se o mundo caísse, eu iria sorrir. Se eu não pudesse falar, se o coração apertasse, se o ego inchasse, se o olho transbordasse, eu iria sorrir. Eu sempre tive muitos planos, mas esse era o principal. Pensei: talvez estivesse jogando sorrisos fora e eles estivessem perdendo o seu valor. Mas quem disse que sorrisos têm de ser raros? Que vendam sorrisos na feira, no açougue, supermercado, lanchonete. Que distribuam sorrisos como fazem com os panfletos. Promoções: provoque um sorriso e ganhe dois.
Ah, eu me orgulhava do meu plano! Nada me impedia de sorrir e, pra falar a verdade, nada ainda me impede. Nem de sorrir nem de sonhar, nem mesmo de inventar novos planos. Eu tinha um plano...
Um dia, quando acordei, olhei pro espelho e ele parecia sorrir pra mim. Saí de casa, fui embora. Olhei o céu e ele, de fato, sorria. O dia sorria, o mundo sorria. E como era lindo o meu plano! Mas, espera aí, como o mundo todo sabia do plano que era só meu? Olhei em volta e todos os papéis que me serviram de rascunho para a invenção do plano estavam pelos ares, pelo chão, na mão das pessoas que eu nunca vi, na boca dos cachorros da rua, tentando entrar pelas janelas das casas. O vento havia levado meus rascunhos. O plano já não era individual pois o mundo e eu compartilhávamos do mesmo, tínhamos um só objetivo, buscávamos o mesmo resultado. E eu sorria e o mundo sorria comigo.