quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Em busca de um lugar que seja meu





É chegada a hora de ir. Adeus. Esse lugar não me comporta mais (creio que a minha impaciência tenha feito com que eu, na minha busca pela felicidade, tenha perdido a forma habitual de forma a não caber mais aqui). Todo esse barulho me ensurdesse, todas essas luzes me cegam. Quem me servia de espelho agora me ofusca. Não posso mais ficar.
Estou sufocada e quando busco sossego no vazio do quarto, me deparo com pensamentos que não me deixam em paz, me apertam a garganta, me atingem a cabeça, desorganizam minhas certezas, me molham o travesseiro. Eu preciso ir. Como ficar se não posso respirar? Necessito de ar e, se não for pedir demais, quero poder distinguir cheiros. Aqui eu não vejo, não sinto, não vivo. Cansei de segurar com as mãos esse coração que só sabe disparar por coisas sem sentido. Incrível como ele ainda dispara! Já deveria ter se cansado disso assim como eu já me cansei de aguentá-lo, tão inocente, coitado. Ele precisa de descanso também e esse é um dos motivos pelos quais eu tenho que ir.
Se você - que me aturou na hora das crises, me confortou na hora do choro, me abraçou na hora da insegurança - se você quiser me achar, sabe onde me ver. Você me conhece melhor que eu mesma. Eu, que sempre fiz questão de me entender, não sei nem o que me dizer na hora em que o céu cai sobre mim, mas você sabe.
Essa é a hora da despedida e estou sendo o mais egoísta possível: tomei essa decisão pensando em mim e só. Preciso mudar daqui e de mim, preciso me mudar. E aquela música... Mesmo que eu vá, ela vai continuar em mim, gravada como que por decreto. Eu estou indo. Adeus pra você. É hora de modificar o que não satifaz, de afogar o que me afoga, de deixar de lado o que me machuca. É hora de esquecer. Esse lugar não é mais meu. E se você olhar pro céu agora, vai ver escrito em letras garrafais a resposta do porquê de tanta mudança: PORQUE A MONOTONIA DÓI. A DOR DÓI.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

E quando eu choro...




É tão fácil se perder, justo naquele momento em que você consegue se encontrar, se conhecer ou pelo menos fingir isso muito bem. É tão fácil se regrar quando você esquece o sabor de se permitir, de poder. Tão fácil quanto chorar. Tá vendo? Sei que posso começar a qualquer hora.
Não, eu não estou triste, mas isso não significa que eu estou chorando por causa da alegria que me invade, me arromba, me incendeia. Muito fácil chorar, pelo menos pra mim. Acho que tenho esse dom desde pequena, que me fez saber até que ponto minha dita sensibilidade aguenta ficar quieta, retraída, só no meu interior sem ter que se fazer visível aos olhos do ar que eu tenho que respirar, mesmo que às vezes não queira. Querer... Tão fácil querer quanto chorar. Tão fácil me apegar, me apaixonar e tentar esconder isso. Tão fácil me ofender, me machucar, me marcar com fatos banais e isso nem eu mesma sei porque. Tão fácil me entender. Difícil é explicar como eu sou. Difícil é segurar o choro que agora me acompanha, me inunda por dentro, me risca o rosto por fora.
Sabe, pode parecer estranho, mas me é tão bom chorar. Esquisito. O que é esquisito me atrai, mas não por eu querer ser diferente, simplesmente por querer entender tudo o que é realmente esquisito em todas as suas esquisitisses. Quero entender também tudo o que é triste, tudo o que é sombrio, temeroso. Quero saber identificar, compreender e tentar mudar, nem que seja só um pouquinho e fazer algo triste sorrir. Ah, tão fácil querer modificar! Tento me modificar a todo instante em que não me suporto mais e nessas horas, às vezes sem explicação, eu também choro.
Vem de dentro, o olho arde, a respiração começa a se fechar. Brota água no canto do olho e, de repente, brota água no olho inteiro. Então já sinto essa água me acariciando o rosto como se me pedisse pra ficar bem. E eu vou ficar bem.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Sintonia




Tenho pensado muito ultimamente em tudo o que me tem feito sorrir, talvez pela necessidade disso. Necessidade essa na qual eu mergulhei de cabeça, fiquei submersa, completamente tomada. Eu preciso sorrir e dar valor a quem me faz contrair os músculos da face de forma a esquecer tudo o que se passa fora de um raio de metro e meio à minha volta. No meio desses pensamentos, me senti obrigada a lembrar de um refúgio longe, distante, intocável, no entanto absudamente importante. Um refúgio que simplesmente apareceu e me segurou, que dá berço às minhas palavras soltas, que virou o motivo da minha crença no impossível. Eu sei, não vai ser fácil encontrar outro refúgio no qual eu não possa depositar meus olhos aflitos na hora da insegurança e mesmo assim me sentir confortada, no qual eu não possa procurar seus braços em um abraço quente quando a alegria me trouxer em suas asas. Não, não vai ser nada fácil. Me considero sortuda pelo privilégio de ter um refúgio que é meu desafogo estando lá e não aqui.
Sim, seu moço, eu tenho uma amizade lá, onde o sol toca o mar na hora de dormir, onde a lua tem espelho quando é necessário retocar sua beleza, eu tenho uma amizade lá. E sei que é de verdade, caso contrário o coração não ia disparar com a vontade de qualquer abraço, por mais rápido, ao acaso e sem motivo que seja. Caso contrário, os olhos não iriam brilhar com o simples pensamento em um possível encontro. É de verdade, seu moço.
E é tão bom quando escuto a voz que me acalma, com aquele sotaque, quando o assunto nem é dos mais urgentes. É tão bom te sentir ao lado, amizade, quando o que nos separa são pedaços de chão sem piedade, que não conhecem o sentido do sentimento que nos aproximou pela alma. É tão bom sentir a sintonia que tem cor própria, luz própria, sentido único, direção certa. É tão bom saber que o que me une a você, amizade, independe até mesmo da presença pois existe a sintonia da mente. Eu sei que quando a gente se encontrar, tudo o que a distância não favoreceu vai se fortalecer e, mesmo que o olho encha d'água e a visão fique distorcida por conta da emoção, poder te ver vai ser um presente tão grande ao ponto de se tornar o momento em que o laço que nos mantêm unidas terá o eterno reforço da lembrança, da presença e, um dia, da saudade. Amizade, obrigada por me fazer sorrir.

Porque o '2' é um número até significativo e que tem a sua importância.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Eu e aquela nuvem ali





É errado tentar se apossar de uma nuvem que voa vaga pela céu? Tendo em vista que ela não tem dono, isso pode ser visto como um aprisionamento. Tendo em vista que essa posse pode fazer bem à nuvem, isso pode ser visto como uma salvação.
Eu quis pegar uma nuvem pra mim e tê-la no teto do meu quarto. Quando eu saísse, pegar um pedacinho de nuvem e por no bolso ou na bolsa. Quando eu tivesse fome, comê-la. Quando eu estivesse triste, me esconder nela. Eu tanto quis pegar a nuvem pra mim, que me acusaram de privatizar o que não tem dono, me chamaram possessiva e egoísta. Eu só queria salvar aquela nuvem solitária, juntando a solidão dela com a minha - veja só que belo, duas solidões juntas podem se completar! -. Eu tanto quis a nuvem que, na tentativa de pegá-la sem que ninguém percebesse, me distraí, ela fugiu amedrontada, vagou pra outro lado do céu onde minha visão não alcança.
Minha vida com a nuvem poderia ser bela, não fosse a minha tentativa de posse. Esse mundo capitalista! Pense, eu poderia vê-la no céu, decifrar suas formas. Sim, eu gosto do que não tem forma certa, do que muda, do que me faz querer entender mas que não exige explicações, eu gosto do incerto. Aí está: gosto de nuvens. Eu queria uma, mas nenhuma nuvem quis ser minha ainda. Talvez chova e ela venha a mim em forma de água.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Chega!




- Estou caçando o que eu não sei porque sinto algo que não sei definir e eu preciso de alguém que talvez eu ainda não conheci. Isso é o que mais me intriga... Esse alguém não aparece! E eu aqui, esperando. Talvez fosse fácil esperar por alguém que não se conhece. Talvez não por não saber seu rosto e pensar a toda hora que esse alguém chegou. Não, não chegou - decepção. Ei você, vê se não demora! Chega logo, se mostra, me mostra que valeu a pena esperar - caso seja real. Chega!
- Pronto, já chega, né?