domingo, 12 de maio de 2013

Você vem?

Seguimos assim, imortais, enquanto ainda é noite. Um dia há de amanhecer, eu sei que há de amanhecer, mas até lá seguimos imortais, seguimos infinitos. Dedos entrelaçados, olhos atentos mesmo que risonhos e vamos seguindo assim, vagarosos porque a noite acabou de chegar e não, não há porque correr. Desde que você veio me buscar, desde aquele convite sem mais nem porque, desde a simples vontade, me fiz noturna. Noturna, não escura e descrente, sem vida. Não. Me fiz noturna, livre pra correr em ruas vazias, livre pra cantar em vielas silenciosas, me permiti abrir os olhos e não ter que deixá-los entreabertos devido à claridade. Não importa se a face se enrubreceu, há o fogo que te queima e não se vê, é noite. Não importa se algum dia houver choro escorrendo pelo rosto quente, há o murmúrio que se ouve e se sente, mesmo que não seja visível, é noite. Corremos assim, leves, enquanto ainda é noite. Sentidos aguçados, medos vencidos, mãos dadas. Estamos lado a lado nessas ruas de sentido duplo, mão única não há, nunca houve. Podemos voltar, se quisermos, mas por enquanto vamos adiante, vamos em frente, apenas vamos. Apenas voamos. Vamos, é noite.