quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Porque mudamos

É, eu sei, sua vida mudou, seu mundo já não é o mesmo. Você já tem novos sentidos e eles parecem te consumir. Você já voa. Não me lembro de tê-lo visto tão leve, tão livre, podendo escolher suas algemas, procurando suas almas gêmeas por aí. Você agora ri. As estrelas são suas, meu caro! Você escolhe o que vai brilhar no seu teto, no seu quarto, você já não capina o mato e não se preocupa com o que há no caminho, pois agora é você que passa. Massa! Agora você não teme.
Sabe, eu mudei também. Mudei o caminho pra casa pois mudei a casa e digo que o bom de toda passagem é que passa. Meu caro, temos um além - brindemos! Brindemos porque a taça é nossa, o espumante é nosso e tudo (sim, o mundo) nos pertence. Porque, se olhamos pro céu, é por vontade e não por obrigação. Se desejamos a lua, é porque gozamos do poder e da simples, porém complexa, vontade. Se esquecemos da hora, meu caro, ela que nos ache por aí alegrando esquinas, cantando à liberdade.
Entendo, nós mudamos - a nós e ao mundo. Sim, você está livre. Só te peço uma coisa: não vá se perder.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Erma

Estávamos ali, sentados à mesa. Estávamos ali, ele me olhando e eu fitando o prato de comida sem ao menos me dar conta do que havia naquele prato. Ele tentando fazer com que eu me sentisse à vontade, no entanto, sem dizer uma única palavra. Tentávamos nos confortar no silêncio. E ele me olhando. Eu apenas brincava com a comida, como que buscasse algo ali em meio aos grãos. De repente, enquanto ele enchia o copo que eu nem percebi que tinha bebido, ouvi sua voz forte e profunda: " - Por que você não come mais? - Tô cheia." Era mentira. Eu nunca estive tão vazia em toda a minha vida.

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Então me diz

A gente vai levando assim: eu aqui, você aí e tudo no mais perfeito caos. Tanta bagunça por aqui, tanta falta de jeito, tanto medo de estragar a imagem que eu custei a construir. Eu dou valor, sabe? Mas não adianta, a tendência sempre é essa: esfriar, perder um pouco da força, achar que os motivos não são tão fortes quanto antes. É que tá tudo engasgado, tudo dito pelas metades, todas as brincadeiras com fundos de verdade e você parece não ver. Tá tudo na sua frente, eu joguei aí pra você conferir, eu te abracei de forma a dizer 'fica! Por favor, fica!', eu me assustei, me apavorei e, por fim, quem foi embora fui eu. Eu tenho é medo. Preciso mesmo rasgar o peito, virar os copos, fumar os dedos? Então me diz que você não entendeu o jeito com que eu te olhava e eu digo que nunca entendi os olhares com que me retribuía, digo que não te vi sorrindo sem motivo. Então me diz que você não entende as brincadeiras e eu digo não gostei dos abraços. Me fiz passar por você, levei seu nome no pescoço, levei seu cheiro no braço e seu sorriso no rosto. Te mostrei meu império, meu hino, meus pecados, minha sede por indulgência. Então me diz.. Me diz que você não viu que eu fiz o que fiz pra mudar o meu caminho e talvez te encontrar por aí.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Só, somente só

Tão fácil sentir o peito vazio, ver a casa vazia e ainda implorar por paz. É quando a mente se faz mais movimentada, cogitada, atordoada, no entanto, você está só. Muito fácil sentir falta sabe-se lá de quem quando tudo o que chama de inteiro não passa da matade. Tão fácil querer completar-se, completar-te, completar-me. Basta alguns goles de solidão, tanto física quanto a nível de alma, pra se elevar as preces e pedir por um pouco de paz, como quando a chuva era muita e o guarda-chuva era só um, como quando a vontade de ouvir música era muita, os ouvidos eram quatro e os fones eram apenas dois, como quando estávamos sob o céu e eu só pedia em oração: 'que o céu nos embale! Que o céu no engula!'. Volto a querer paz comigo mesma e sabe-se lá com quem mais, eu só quero quietude, calmaria pra essa alma que só sabe se debater. Ah, tão fácil cair, se contradizer, bater o pé, dizer que não quer crucificando-se por tanto querer. Fácil demais se ver só, se julgar independente, se tornar imortal embriagando-se de solidão e da ausência de motivos pelos quais se arriscar. Mas ainda assim, juro que julgo mais fácil morrer de amor.

terça-feira, 7 de agosto de 2012

... Ou qualquer coisa que o valha

Tudo se resume a isso: eu te quero chegando. Demorou tanto pra aparecer e eu ali, inquieta, esperando e fazendo da espera a parte mais agoniante da mocidade - eu não sei esperar, visto a pouca idade - e você não vinha. Eu gritei tantos nomes, esculpi tantos rostos, guardei tantos cheiros na esperança de te encontrar em algum dos corpos que vagavam à minha frente - mas você voava e eu nunca olhei pra cima. Você custou a descer e a minha inquietude fez da espera uma real tortura, uma insuportável falta de paz, uma tontura tremenda que me tirava o norte, o porte, o saber agir, saber dosar. Você custou, mas veio. Você apareceu, aconteceu ou qualquer coisa que o valha. Quanto tempo eu esperei pouco importa visto que você chegou. No entanto, chegou e se foi - foi engolir o mundo, foi enfeitar outras ruas com esses olhos belos. E eu te quero de volta. Eu te quero chegando mais uma vez.

quinta-feira, 28 de junho de 2012

De olhar aceso

É que de repente você surgiu. Veio do nada, caminhando em meio a gritos e espasmos completamente voluntários de pessoas perdidas procurando salvação. E você veio, captando cada movimento que teimava em se fazer verdadeiro, mesmo que vão, mesmo que não fosse por inteiro, você veio dançando, olhando o mundo por cima, com a autoridade de quem pode parar o tempo, eternizar o momento, você veio com o poder na mão. E me olhou com o olho clínico e detalhista - e quem era eu, diante de tal conquista, pra te dizer não? E me sorriu, me fazendo tremer a alma, me levando todo o resto de calma que eu consegui guardar peito. Sorria e dançava e eu, incrédula, me perguntava quem era você pra me bagunçar desse jeito.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Eu tentei, juro!

Eu fugi. Sim, eu não queria te ver, cruzar com você, bater de frente com os seus olhos gigantes. Mas me fala: de que adiantou? Parece que quanto mais desejo me esconder de você, mais você se mostra a mim como uma aparição vinda de um sonho lindo, perfumado, azul. Eu fiz de tudo pra não te achar, pra você não me achar. Eu guardei o celular na gaveta e você bateu na porta. Eu criei asas e voei, mas você estava no céu (era a lua, era lua cheia). Eu saí correndo, quis viajar, mudar de ares... Senti seu cheiro vindo no vento. Fechei os olhos pra não te ver, mas você me chamou.

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Pra ser forte




Não se preocupe, sei que não hei de morrer por dor nenhuma. E todo esse pejo que me escorre nos cantos dos olhos nada mais é que aqueles tão sonhados lampejos de lucidez.
Não mais me preocupo. Teu léxico rebuscado não me aflige nem me retorce, como não mais fará a lembrança da tua face de parelha com a vida que eu sempre quis. Não quero mais. Não sendo isso a mais interna e sincera mentira, não quero mais ver teus traços enquanto sonho, dormindo ou com os olhos em alerta, à espera, à espreita, prontos para dar o bote quando se materializarem tuas formas ao alcance de meus dedos trêmulos.
Nem mais me ocupo. Sou sumo azedo de fruta passada e não me adoço. Se te incomoda, que o faça ou então me refaça da forma como bem entender. Por enquanto, ainda sou meus próprios laços, ainda me embalo em meus próprios braços e me garanto com toda a minha força de vontade que não, eu não hei de morrer por dor nenhuma.