quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Tão somente

Te dedico meus primeiros pensamentos descompensados do dia e os meus suspiros profundos, tão sem rumo, tão loucos, que me enchem de nada, de vazio, pois falta o que a vontade tanto deseja.
Te dedico meus olhares vagos que enxergam tão bem todo o além, que te veem ao meu lado como não mais está, que te querem ver, admirar. Te admiro.
Me quero entre seus dedos, entre seus lábios, em seus suspiros. Quero minha mão te ajeitando os cabelos e acariciando o rosto. Te quero se esquecendo em mim. Te quero: movimento e repouso, euforia e aconchego. Quero seus passos, seus pulsos e reinos. Te quero tão somente como me quero em você.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Menos uma dose

Eu não quero o que prevalece em mim
o que me mata
à mingua
a língua me diz o que há aqui
e eu não quero
tenho raiva do que não me faz sorrir
e pela vontade de não mentir
pelo desejo de dormir
eu não quero o que há em mim

Estou jogando fora o que me faz existir
pois não quero
não quero mais
quero o meu cais
a minha possibilidade de partir

Eu não quero o que prevalece aqui
em mim
toda essa tontura, toda essa tortura
essa porta torta e emperrada
Toma! Esse sentimento é seu
sou só e, pro meu bem
é melhor não ter nada

Poema um pouco antigo que deu nome ao meu tumblr ( http://menosumadose.tumblr.com/ ).

sábado, 26 de novembro de 2011

26 de setembro de 2010

Eu queria você aqui comigo. Sei que pode parecer ridículo, mas eu tenho que dizer: preciso de você do meu lado. Preciso de você pra me aconselhar, me fazer rir, me deixar ter sonhos estranhos em momentos complicados e te olhar por alguns instantes. Te olhar me faz bem.
É estranho te falar isso assim, tão diretamente. Não sei se quando ler vai saber que é pra você. O que acontece é que me sinto bem quando estou perto de você. O que acontece é que tenho sentimentos que nem eu mesma entendo. O que realmente acontece é que eu não quero entender mais nada. Estou sendo direta demais, não me reconheço. Culpa sua, que me atormenta, me tira o sossego (e me dá sossego).
Vou dizer tudo o que se passa agora: já é tarde, eu deveria estar dormindo, a música ressoa nos meus ouvidos, essas palavras vêm eu não sei de onde, o sono foi embora e me deixou aqui sozinha, meus pensamentos estão vagando na minha cabeça e a necessidade de te escrever se fez imensa.
Estou desconexa, irreconhecível pra mim mesma. Acho que tudo isso era só pra dizer que eu queria você comigo, andando por aí, conversando sobre tudo, rindo do que não tem graça, cantando o que só a gente sabe cantar, distribuindo sorrisos. Espero que, quando ler isso, venha e me diga que sabe que é pra você. Caso contrário, preciso que a coragem tenha a boa vontade de me encontrar, mas acho difícil, fiquei sabendo que ela está longe daqui. No mais, eu te quero bem e bem do meu lado.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Você venceu




É necessário que eu aceite o que é tão claro. Eu perdi, você ganhou. Ok, Amor, você venceu! Pensei que fosse forte o bastante pra não me render ou pra suportar tudo sem dor. Pensei que conseguiria sentir amor sem amar de fato, sem insônia, sem medos repentinos, sem sonhos delirantes, sem vontade de matar certas pessoas, sem vontade de querer estar sempre perto. Eu pensei que saberia lidar com o desejo das mãos entrelaçadas, dos olhos em eternos diálogos, dos filmes, cobertores, abraços.
Já me fez sentir tudo e sentir demais. Já sofri demais, já chorei demais e isso só mostra que você ganhou. Amor, meu tão idealizado e sonhado Amor, você só me fez sentir você e deixar de me sentir um pouco ou então me sentir de um jeito que eu nunca havia sentido. Talvez eu tenha me perdido em alguma dobra de esquina ou me encontrado em algum sentimento profundo, desses que ficam num canto se fazendo de bobos. Não sei.. Só sei que eu perdi e o Amor ganhou e pode ser que isso não seja tão vergonhoso assim - a batalha foi dura e sangrenta.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Faz falta




E de repente me veio a lembrança dos seus abraços, me senti protegida, com os olhos fechados e um sorriso sincero, sutil, como quem ouve depois de anos aquela música preferida. Eu te vi na minha frente, acreditei que estava ali a me fitar com seus olhos apertados, olhos risonhos, olhos de 'está tudo bem, vai passar'. Sim, eu te vi mesmo estando longe.
Chega a doer tanta saudade. Sua presença me faz falta, sua falta tem me feito ausente de mim, como quando metade da alma foge, como quando uma irmã vai embora, como quando um braço lhe é arrancado. A saudade tem me dado a mão todos os dias, mas ultimamente ela vem apertando demais, machucando os dedos e fica difícil pegar, alcançar o que quer que seja.
Tenho aqui, no cantinho da mente, muitas histórias pra te contar, pra te deixar a par da minha vida de novo, apesar de ter a leve sensação de que voce sempre sabe de mim - talvez o vento te leve notícias minhas. Tenho também os meus momentos (não raros, eu sei e admito) de completo silêncio, onde a ausência de palavras seja talvez a melhor tradução para o que eu quero dizer.
Eu não tenho medo do tempo, ele não pode fazer tanto, não pode destruir tanto. Tenho medo é da distância. Essa afasta tudo dos olhos na tentativa, mesmo que impensada, de afastar da vida. Mas talvez não devesse temer tanto, porque não vejo outro lugar onde possa estar refugiada a metade da minha alma que fugiu se não do seu lado.

sábado, 10 de setembro de 2011

Então vai, Ana Carolina!

Não convém mais sentar na porta e esperar o carteiro como se esse fosse trazer a minha vida em algum pacote amarelo rodeado de fita adesiva azul. Não, não convém deitar na cama com o celular no rumo do ombro, bem à frente dos olhos e esperar que ele toque ou vibre ou dê qualquer outro sinal de que alguém quer se comunicar comigo e dizer que está bem e só estava com saudade de ouvir a minha voz, que sente a minha falta, que me queria ali do lado agora. Você sabe muito bem quando as coisas não são mais viáveis e que toda insistência só fará você se machucar mais. É como se você esperasse a vida inteira por provas concretas que te dissessem 'segue o seu rumo' e quando elas finalmente aparecem, você sente uma vontade absurda de tapar os ouvidos ou de se fazer de boba e fingir que não entendeu o recado. Mas agora é hora de fazer as malas, seguir viagem, largar os amores-sem-cabimento pra trás. Estranho como eu já sabia da necessidade dessa despedida faz tempo e só agora eu resolvi, eu estou tentando me resolver, desenvolver, ver além da vontade.
Porque não convém mais guardar chocolate na mochila na esperança de alguma abordagem repentina que fosse me fazer pegá-lo e entregá-lo junto com alguma frase bonitinha decorada de um livro desses que a gente sempre lê. E você se pergunta se eu sou romântica demais, idealizadora demais, sonhadora demais e eu te respondo: eu só me entrego, mesmo que só pros meus sentimentos - mas agora não convém mais.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Pela simples necessidade de escrever




Talvez não seja só fase. É, talvez eu seja assim mesmo e não haja muito o que fazer a respeito. Já tentei de diversas formas decidir quem é a pessoa que leva a imagem que vejo no espelho, que sussurra segredos sozinha pra qualquer ninguém ouvir.
Normal, me contradigo e quanto mais eu penso, mais me confundo. De repente vem à tona um turbilhão de decisões que precisam ser tomadas o quanto antes e eu quero colo. Sim, quero colo, quero ombro ou qualquer outra coisa que me conforte e esconda ao mesmo tempo. Esse é um período crítico, daqueles que pedem aperto de mão e vozes ao pé do ouvido pra dizer seja lá o que for, seja lá de quem for.
Dia desses, enquanto estava num desses afazeres diários e árduos, saí um pouco do foco, perdi o rumo e a razão, me afastei das responsabilidades a serem cumpridas ali naquele lugar e me vi escolhendo cartões. Por que? Pra quê? Pra quando? Não sei, não sei e não sei. Só sei que fiquei imaginando durante o resto do dia como seria entregar um cartão dobrado com a própria alma dentro e receber uma vida como troco. Já pensei seriamente em entregar minha alma e em ter algo ou alguém pra cuidar, chamar de meu, ter comigo. Já pensei no pedido, no sorriso costurado no rosto, na dança no meio da rua. Seria lindo. é, seria.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Te apresento: o meu monstro




Movida por toda vergonha que agora me pesa a consciência, eu admito: menti. Eu menti. Eu menti. Dói, mas eu tenho de aceitar o fato de que eu enganei, iludi, fui hipócrita com quem mais precisava da minha lealdade: eu menti pra mim. Admito também que foi fácil me enganar e alimentar as verdades que eu lamentavelmente criei.
Pois pense você que o que eu mais queria agora era esconder o rosto, não tenho ideia de qual será a minha reação quando eu tiver de me encarar de novo no espelho. Tamanha a minha vergonha que custei a pegar no sono, que não durou muito, e logo veio a madrugada me puxar o pé, tirar as cobertas e me obrigar a pensar em maneiras de pedir perdão.
Dentre todos os fatos que me pesam a consciência, o pior de todos, o mais pesado, desconfortável, o mais espaçoso, o que mais machuca foi ter me dado uma rasteira, me jogado em um desfiladeiro e depois me empurrado em um poço. Eu inventei e, pior, alimentei esperanças que não deviam ter existido e agora que elas chegaram obrigatoriamente ao fim, eu não vejo como me dar a mão para sair do poço, curar as feridas, reconstituir a boa aparência, devolver o riso fácil e apontar o novo rumo a ser seguido. Eu menti pra mim mesma, fui covarde, trapaceei e essa aceitação talvez seja vista como um primeiro passo para refazer a minha moral, mas, repito, eu menti pra mim mesma e isso me soa tão agradável quanto um tapa na cara.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Sabe aquela menina da rua de cima, pai?





Meu pai não queria me contar o que estava acontecendo direito, porque até agora eu não entendi. Ele queria saber o que se passava comigo e quando eu pedi explicações, ele não quis explicar. Ele disse que eu era um menino novo demais pra entender. Juro que não entendi. Eu contei tudo pra ele.


- É que eu ando comprando mais balas que o normal na escola, pai. Descobri que aquela menina que mora ali na rua de cima gosta da mesma bala de maçã verde que eu. Todo dia eu dou duas balas pra ela e fico com as outras duas. Mas é que eu estava juntando o dinheiro pra comprar as figurinhas que completam o meu álbum. Eu estou triste por não comprar as figurinhas, mas eu acho bom quando ela sorri pra mim depois que eu dou as balas pra ela. E eu não sento mais no refeitório pra lanchar, agora eu fico lá perto da árvore no pátio. É que de lá eu a vejo brincando de pular corda. Eu não brinco mas acho bom quando ela olha pra mim e acena... Às vezes, ela senta comigo e fica me fazendo cócegas até eu dar um pedaço do meu bolo pra ela. Ela é mais legal que as outras meninas da minha sala.
- Que bom, filho! Descobriu uma nova amiguinha, vocês estão se dando bem. Me conta mais!...
- Hoje ela não quis aceitar minhas balas, não pulou corda no recreio e eu não sei onde ela foi sentar na hora do lanche. Quando eu chamei ela pra gente vir embora juntos, ela disse que não queria, que ia com o Bruno. O que foi que eu fiz, pai? E porque eu estou triste com isso?
- Ah, acho que sei o que é... Mas não tem como te explicar, você é novo demais pra entender isso. Faz o seguinte: tenta ficar bem e, por via das dúvidas, continue comprando as balas pra ela, vai que um dia ela te pede uma de novo? Não se preocupe, eu compro as suas figurinhas.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

A paz e eu




Certa vez estávamos ali, a paz e eu, frente a frente. Ela me fitava e eu sorria pra ela como quem quer presente, como quem quer sorriso de volta. Há tempos eu não me sentia tão completa, tão segura de mim. Eu e a paz, ali, em plena sintonia, respirando acordes e versos brancos, vendo o baile das rimas que se formavam a medida que o vento nos embalava.
Eu, ali, acompanhada da paz que tanto me fez falta nesses últimos tempos, me senti tão aliviada quando me dei conta de que estávamos cantando a nossa música - ou ouvindo-a soar no ar... Não sei, mas a música acontecia em algum lugar!
Não havia discussões ou reclamações; houve alguns conselhos, o que era inevitável. Havia o essencial: eu e a paz, a minha paz, tão minha. Havia o que havia, sem maiores explicações, tendo em vista que havia essência e essência não se explica. Você não tem ideia de como eu precisava repousar a mente e a alma, ter a minha paz comigo enquanto eu esquecia da vida olhando bem no fundo dos seus olhos e sentindo sua mão na minha - um toque de paz.

sábado, 21 de maio de 2011

Universo Paralelo





E há alguém que sente o mesmo que eu, eu sei que há. Alguém que sabe exatamente como eu me sinto, que sabe cantar a minha música, que sabe ler meus olhos. Alguém que sabe a hora de segurar a minha mão e a hora de soltá-la, que respeita meus momentos de estresse, que sabe quando eu não estou bem. Alguém que entende quando eu levanto à noite, caminho descalça até a sala, sento no sofá e coloco as mãos na cabeça - alguém que sabe o motivo disso.
Já pensei na possibilidade da existência de um universo paralelo - com uma pessoa que sabe exatamente o que eu passo pelo fato de também passar por aquilo. Pois imagine você: um universo onde há alguém que sabe o gosto da sua lágrima mais íntima e secreta, que sabe a importância dos seus sonhos mais pequenos, que sabe o que te toca. E nesse universo, quem sabe, esse alguém pode saber dos seus medos mas não se render a eles, esse alguém pode aproveitar oportunidades, pode saber amar na medida, pode amar sem medo, pode amar a pessoa certa, pode não sofrer de graça. Quem sabe lá, além de te entender, alguém pode fazer o que você não faz, pode ser tudo o que você tenta se tornar, uma versão melhorada apesar de sentimentalmente igual. Lá haveria o 'nós' na sua melhor forma, mais feliz, real. Lá os sonhos seriam levados à sério, os sentimentos seriam recíprocos. Os perfumes seriam... eternos. Os sorrisos... eternos. Os amores... eternos. E os abraços? Ah...
Pense nesse universo paralelo, pense nas possibilidades, pense você nos sentimentos que surgiriam lá. Lá, só lá. Aqui não tem como, tudo impede: eu quero não querer e as outras pessoas simplesmente não querem. Não falo só de uma, falo de muitas que me cortam as asas no exato momento em que estou disposta a levantar voo, talvez não por querer, mas me deixam sangrando, com os pés no chão enquanto eu poderia estar no alto, vendo tudo de cima. Que há nesse mundo que não permite aos meus sonhos crescerem? Que há aqui que não me permite sonhar e eu só o faço lutando, sendo forte? Que há em mim que não aceito o que não está de acordo com as minhas vontades? Pois no universo paralelo eu poderia ser feliz porque eu saberia lutar contra toda força que tentasse me prender. Os sentimentos iriam se soprepôr à razão, eu teria permissão para ser eu.
Pensando bem, talvez fosse melhor que não houvesse o 'nós' no tal universo assim como não existe o 'nós' nesse universo aqui. Aqui são imensas as suas possibilidades de ser feliz e eu não me vejo em nenhuma delas, não sei porque insisto nesse sonho. E lá... Tudo tão perfeito, toda beleza tão singela, todo sentimento tão puro, que não teria porque se prender a mim. Que não haja o 'nós' em lugar nenhum então. Que haja felicidade e só. E eu, assim, sorrindo, somente.


Texto enorme, né? Desculpa... Hahahahaha! Faz tempo que eu queria postá-lo, mas agora está aí.

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Que a distância me diga algo




Sim, estou tentando respeitar o seu espaço, não andar na corda bamba do limite, ser menos invasiva, menos insistente, menos preocupada, menos eu. Sim, estou tentando te deixar mais à vontade, quero não dar motivos pra reclamações, não ser o motivo do fim de nada, por mais que esse nada seja a mais insignificante das coisas. Assim, sem pedidos, sem canseira, sem ligações, sem presentes - acho que você se sente melhor dessa forma. Faço isso mais por você que por mim, mais por esse carinho que eu nem sei de onde vem.
Sim, estou me limitando a responder o que você pergunta quando pergunta e deixando os meus questionamentos pra depois - quem sabe, nunca. Só espero que isso não mate nada que existe aqui, que todo esse distanciamento não crie buracos entre o que eu acho que pode ser duradouro. É que eu não sei muito bem o que fazer, sabe? Me dê sinais de até onde chegar, sem se ofender, sabendo que eu não sei. Me diga quando te chamar, quando não falar, quando posso ser eu e te abraçar e gritar e cantar e sorrir sem atrapalhar. Me conta o que te dizer quando o que eu quiser falar não soar muito bem aos seus ouvidos. Me ensina a me queixar, me dá um abraço seguido de um olhar que acalma. Me chama pra correr, pra brincar, me ajuda a sair de mim. Esquece tudo aquilo que eu já falei, esquece o que te afasta de mim, o que você não quer e que eu me esforço (muito!) pra não querer também. Me ensina a te entender, mas tenha paciência com o meu processo de adaptação um pouco lento. Me auxilia a eternizar o que deveria ser eterno, isso que me faz tão bem e que eu queria que também fizesse o mesmo com você. Que fique claro: eu preciso de você! De qualquer jeito, acredite. Eu preciso de você e só.
Sim, eu estou me esforçando e se não der certo, eu sou testemunha de que eu tentei.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Pós mergulho





Ela chegou em casa e deitou na cama, com os pés no chão, a cabeça enterrada no colchão, os cabelos em desalinho sobre o lençol, os pensamentos vagarosos como se não quisessem passar nunca. E ela não queria que eles passassem, que aquele sentimento passasse, que aquele sorriso bobo acabasse. Ela queria aquilo pra sempre. Suas pernas dobradas, tocando apenas as pontas dos pés já cansados no piso frio e seus olhos abertos fitando o teto, porém vendo o que acabara de ver, lembrando aquele passado recente que ainda suspirava, que não estava morto, havia nascido há pouco e por mais que perdesse forças, ainda estava vivo, latente.
Se viu em um espiral de emoções, um rodeio, uma roda, um rosto, um risco, um rio azul com fios de ouro nas bordas. Continuava a sorrir, a ter devaneios que sabe Deus se viriam a ser realidade algum dia. Ela apenas fechava os olhos e sentia, sorria, sumia, sabia e quase amava.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Isso...





Eu queria que isso tivesse alguma importância. Poderia servir pra alguma coisa. Poderia não só existir como também ser especial pra mais alguém que não fosse eu mesma. Poderia fazer bem, poderia inspirar, suspender a respiração, ter cheiro, forma, dar cor. Poderia cantar pra gente, ter um nome, afagar os cabelos na hora do choro, dar a mão na hora do grito.
Eu queria que isso fizesse voar, desse impulso. Eu queria que tivesse pulso, tirasse do sério, subisse à cabeça, fizesse perder os sentidos. Eu queria que fosse meu, seu e, além de tudo, nosso.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Viva!




"(dez e)Sete botas pisaram no telhado
(dez e)Sete léguas comeram-se assim
(dez e)Sete quedas de lava e de marfim
(dez e)Sete copos de sangue derramado
(dez e)Sete facas de fio amolado
(dez e)Sete olhos atentos encerrei
(dez e)Sete vezes eu me ajoelhei
Na presença de um ser iluminado
Como um cego fiquei tão ofuscado
Ante o brilho dos olhos que olhei"

Zé Ramalho me emprestou a música dele (Canção Agalopada) com algumas pequenas modificações. Tomara que venham mais 170 dias como esse.

quinta-feira, 31 de março de 2011

Singelo pedido





Casemos! Não sei qual o tamanho da sua necessidade (talvez nem exista), mas pelo grau da minha, penso que poderíamos nos casar, assim, sem compromisso legal, sem papel, sem deveres. Casemos com as nossas almas, sejamos dependentes enquanto a dependência for salutar. Casemos agora enquanto o pedido tem fundamento, enquanto estamos sob esse céu de dar inveja, sob esses sentimentos os quais eu não sei nem definir. Casemos, casemos logo, antes que o céu perca um tanto ínfimo de claridade que seja, antes que as pessoas completem seus passos e pensamentos, antes que pisquemos nossos olhos, antes que perdamos a respiração ao nos dar as mãos - e antes que nossos dedos se entrelacem por completo. Colemos nossas almas com ímãs, com Super Bonder, mas colemos logo, casemos logo, que é pra nos pertencermos dentro do limite da nossa necessidade.

domingo, 20 de março de 2011

Linha de Chegada




Eu vim correndo atrás de um abraço, eu estava precisando de um, sabe? E talvez por você não ter notado isso no meu olhar risonho e disfarçado, eu me dei a liberdade de te abraçar. Eu vim correndo de casa, não queria ficar lá hoje, tudo soava um pouco parado demais. Daí eu vim, espero que não se importe. No caminho, eu estava pensando em me sentar aqui do seu lado, assim, e te ouvir falar sobre as coisas que você costuma contar de vez em quando, enquanto me olha nos olhos pra me dar a garantia de que é verdade e eu sempre sei que é. Eu vim correndo na rua, nem vi se tinha alguém olhando pra mim, mas é que eu precisava vir, eu precisava chegar e eu não chegava nunca. Colega (vou te chamar assim), apesar da pose, eu não me sinto bem. Estou como aqueles dias que nascem sem vontade, quando não faz sol nem chove e ninguém sabe que roupa usar. Tem um vazio aqui, sabe? E quando eu começo a querer preenchê-lo, a querer ocupá-lo, descubro que ele é maior do que eu pensava, então eu desanimo. Antes tinha medo, depois tinha euforia, agora não tem nada. De vez em quando algumas vozes ecoam, algumas luzes aparecem, mas no final continua vazio. Eu já tentei me desfazer desse nada tantas vezes! Nunca pedi a ajuda certa e isso só faz doer cada vez mais (sim, o nada dói!).
Já não via a hora de chegar! A noite, a cada instante, mais me fazia pensar que o caminho era longo demais pro tamanho das minhas pernas e, de fato, era, mas eu fingi não saber, tanto é que aqui estou. Desculpa se incomodo, mas se eu não te procurasse, não teria mais a quem recorrer. Eu lhe disse uma vez: preciso de você até mais do que deveria. Temo que não tenha acreditado. Mas saiba que fico feliz por estar aqui sentada ao seu lado, te ouvindo falar de todas essas coisas que não mudam, desse assunto que é sempre o mesmo. Uma vez eu te contei sobre um casamento que não deu certo, lembra? Te contei sobre alguns sonhos que eu nunca pude realizar, sobre algumas cores, alguns medos, algumas poucas certezas. Agora te conto sobre as minhas perdas: eu havia perdido um membro, agora me arrancaram o outro. Perdi uma parte do coração também (veja só que engraçado eu falar sobre isso com você). Eu vim correndo muito e vou ficar aqui até recuperar todo o fôlego. Eu tinha lhe trazido um presente, mas acho que perdi no caminho, desculpa?

sexta-feira, 11 de março de 2011

Anda, Maria!




"- O que você faz aí, pequena Maria?
- Vivendo..."


Não, ela não está vivendo. Está apenas fingindo não ser tão frígida como é. Ainda me intriga saber que ela fingia tudo o que dizia sentir. Como pôde? Sentimentos, quando existentes, são reais, dignos de total respeito. Pra que prometer o que não vai cumprir? Ele te trouxe flores, te trouxe alguns sorrisos provocados pelo amor (alguns ele escondia), te entregou medos, desejos, suspiros. Como pôde? Ele te deu verdades, ele tentou te fazer sorrir quando sua única saída era chorar - e conseguiu. Quem olhou nos olhos dele viu: ele era sincero e vivia pra te fazer sorrir. Agora para de mentir, Maria, você não está vivendo e não está deixando aquele pobre coitado viver! Corre, Maria, corre! Ainda há tempo pra tirar todos esses sentimentos escondidos de dentro do bolso - pegue alguns e pendure no pescoço. Mas se apresse, pequena Maria, porque o tempo não espera.

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Condicional




De repente olho para os meus braços e... QUEM COLOCOU ESSAS ALGEMAS AQUI? Como eu me prendi a tantas coisas sem ao menos perceber? Como eu consegui viver presa dessa forma? Não que tenha sido totalmente ruim até hoje, mas não quero mais ficar tão presa, tão sem reação, tão dependente do que me prende. Também não quero a liberdade tão nua e crua como você deve estar imaginando, creio que não saberia andar tão livre. Quero poder escolher onde me prender, quando me libertar e essas coisas todas que a liberdade condicional me proporcionou um dia.
Arranque essas algemas de mim! Jogue isso longe! E que fique claro: peço ajuda apenas porque estou com as mãos atadas.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Pondo o dedo na ferida




Alguém, por favor, me explica o porquê de tanta subjetividade? Já não reconheço sentimentos sinceros, todos estão submersos em indiretas, em medo das descobertas, em medo de julgamentos. Tem um homem cantando umas músicas aqui e eu, na minha insignificância, gostaria de pedi-lo que me contasse para quem ele canta. Tem uma Lua lá no céu que eu não sei para quem brilha. Tem um coração ali no canto que eu sinceramente não sei por quem bate. Pois é, eu sei que pergunto demais às vezes, mas eu gostaria muito de entender os motivos das coisas. Você, por exemplo, por quem chora? Sente falta de quem? Tem medo de quê? Cansei de todas essas respostas vagas que me acompanharam durante a vida inteira, resolvi ser direta, curta e grossa. Mas serei assim esperando que façam o mesmo para comigo. Objetividade. E verdade, ao menos uma vez na vida. Eu peço: sem rodeios, meios termos e suposições. Prometo, também responderei tudo da mesma forma. Me pergunte e terá a resposta mais clara que eu conseguir dar, me pergunte tudo, esclareça todas as suas dúvidas, desenterre qualquer passado, qualquer medo, qualquer coisa que queira saber - e digo 'coisa' com o objetivo de ser o mais abrangente possível, sem nenhuma restrição. Me pergunte, mas o faça logo, antes que eu volte ao meu estado normal.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Ao nosso dueto

Não sei se mais alguém ouve a voz que eu ouço, se também se encanta. Sabe, tão suave, macia, me chega aos ouvidos, escorrega pelo pescoço, balança o coração que não sei se bate, faz cócegas na barriga. Quando está nos ouvidos, me diz coisas que me fazem sair de mim, me fazem esquecer até o que eu nunca lembrei de fato. Quando no pescoço, me beija com lábios quentes, me sinto amada. Quando no coração - ah! -, me desconcerta toda, nem sei o que sinto, o que sou, o motivo de ser. E quando chega a me fazer cócegas, sei que me quer bem, sorrindo. Como me encanta! Essa voz me eleva e leva a lugares que nunca tinha visto, que não sei onde ficam e nem seus nomes, mas me leva e lá eu fico, me deito, me deleito enquanto a ouço cantar pra mim.
Sinto que essa voz - tão segura, mas doce até demais - me faz um bem enorme. Me beija as feridas, cura as dores e a alma triste e os sonhos machucados. Ah, essa voz firme e grave, que ao falar promete me livrar de qualquer mal, qualquer pensamento ruim, invade todo lugar onde vou, onde estou, onde nem sei se fui. Só eu ouço? Parece impossível pensar que só eu me derreto com a chegada desse som no ar, quando não dá espaço a nenhum outro ruído. É com essa voz que eu perco o medo, levanto os braços ao céu e elevo a minha voz - ouça agora! - porque não há nada que me faça tremer, soluçar, vacilar, tropeçar, perder o tom e, mesmo que o perca, tenho em mim a segurança necessária para gritar o que quer que seja: o meu amor, o seu nome, os meus antigos planos, o que me faz chorar, os meus erros tão bem escondidos.
Talvez alguém ouça por aí a voz que me encanta, que maravilhosamente bem me acompanha, que acidentalmente eu encontrei e, por medo de sofrer, eu não abro mão. Talvez alguém sinta a vibração do ar quando estivermos com nosso dueto, cantando ao mundo o que há de mais belo e sincero, o motivo pelo qual caminho e o caminho que sigo. Benditos os ouvidos que, ao encontrarem com essa voz, também vejam o céu descer, também sintam esse perfume no ar e se percam nesse dom disfarçado de tom que me faz esquecer o que me abala.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Como um vício





Justo agora me deu vontade de abrir a janela! Eu aqui, me segurando para mantê-la fechada faz algum tempo, me segurando para não olhar o que há por trás, mesmo que eu já saiba, mesmo que eu já tenha provado, já tenha gostado, tenha sido dependente. Depois de tanto tempo me guardando, me acolhendo no aconchego do quarto, na cama quente, no cobertor peludo, me dá essa vontade louca de abrir a bendita janela!
Olha, minha retina já se acostumou com a luz opaca do quarto e essa luz já me faz bem - eu já aprendi a ver tudo e com detalhes, mesmo sem tanta claridade -, eu agora gosto da luz assim, tão pouca. Eu gosto, eu juro que gosto. O problema é que alguém atirou uma pedra na janela e o barulho, mínimo, quase que imperceptível, me fez querer olhar o que há de fora. Mas eu já sei o que há lá! Eu já sei que vou me cegar novamente assim que todo o esplendor da claridade passar. Alguém tranca essa janela, por favor? É como um vício do qual eu estou de abstinência já faz um tempo - mais de horas, mais de dias, semanas talvez - e que me faz ficar com os olhos semicerrados, atentos, prontos para atacar, agarrar, pegar para mim tudo isso que eu nunca tive e seria melhor mesmo que não tivesse.
A minha mão está coçando de vontade de abrir essa janela sedutora. Por Deus, parem de atirar pedras na minha janela! Eu não sei quem foi, mas não importa, contanto que pare. Não vê que também atira em mim? Pois bem, me atinge, joga no chão todo tempo em que estive limpa de qualquer vontade, faz do meu juízo cacos pontudos, afiados, perigosos - e o que pensar quando até mesmo seu próprio juízo te faz sangrar? Por Deus...
Se bem que eu já não sei se atiraram mesmo a pedra de forma tão eficaz a ponto de me deixar assim, tão sedenta do que me viciou. Pode ter sido pretexto, assumo. Meus olhos viciados decidiram fazer questão do que tento me abster, esse é o fato. Mas ainda peço, de coração, não atirem mais nada aqui por esses lados, nunca mais. Nunca mais. Nunca...

sábado, 22 de janeiro de 2011

O que se há de fazer?




- Cadê o seu abrigo, aquele que estava prestes a partir e te deixar sem paz de espírito?
- Foi-se.
- Cadê aquele sentimento que te sufocava?
- Foice.

domingo, 16 de janeiro de 2011

Ao anjo com olhos de noite




Te encontrei na parte mais clara do céu. Te dei um nome, peguei emprestado um pouco de cor pra me colorir - eu que andava tão pálida, me faltava sangue, me faltava força -, destaquei seu cheiro na memória, guardei seu rosto no meio das melhores lembranças e me permiti lembrá-lo sempre que se fez necessário. Te toquei com a ponta dos dedos com medo de te ferir, te assustar, com medo de que você fosse ilusão. Agora te descobri como sendo real. Sonhei com você, pensei ter ouvido a sua voz, fiz da sua existência o meu ponto de referência, eu considerei sua opinião mais relevante que a minha, eu me modelei. Te aluguei, desabafei, corri ao seu encontro, me esqueci no seu abraço, no seu perfume, no seu riso, na sua promessa. Te privatizei e você sabe. Sofremos ao mesmo tempo uma dor parecida, com uma causa praticamente idêntica, com um sentimento cruel. Sofremos e nos ouvimos, nos confortamos. Sonhamos. Fui seu diário e você o meu. Cantamos no mesmo tom - ainda ouve? Nos ouço cantando até agora.
Eu preciso te ver, te sentir perto e isso é devido ao fato de você ser de minha propriedade e nós termos plena consciência disso. E eu ainda posso te ver (sorrindo, me olhando com esses olhos noturnos), posso te ouvir (cantando, me acariciando o rosto com essas notas leves e quentes), posso te ter ao meu lado, sentir sua presença forte, ímpar. Tudo isso porque nos pertencemos. Tudo isso porque você é meu - e só meu! - anjo de calça jeans.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Já diria Anitelli...



"Todo sopro que apaga uma chama reacende o que for pra ficar."
Né?

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Plano principal






Eu tinha um plano: sorrir. Se nada desse certo, eu iria sorrir. Se o mundo caísse, eu iria sorrir. Se eu não pudesse falar, se o coração apertasse, se o ego inchasse, se o olho transbordasse, eu iria sorrir. Eu sempre tive muitos planos, mas esse era o principal. Pensei: talvez estivesse jogando sorrisos fora e eles estivessem perdendo o seu valor. Mas quem disse que sorrisos têm de ser raros? Que vendam sorrisos na feira, no açougue, supermercado, lanchonete. Que distribuam sorrisos como fazem com os panfletos. Promoções: provoque um sorriso e ganhe dois.
Ah, eu me orgulhava do meu plano! Nada me impedia de sorrir e, pra falar a verdade, nada ainda me impede. Nem de sorrir nem de sonhar, nem mesmo de inventar novos planos. Eu tinha um plano...
Um dia, quando acordei, olhei pro espelho e ele parecia sorrir pra mim. Saí de casa, fui embora. Olhei o céu e ele, de fato, sorria. O dia sorria, o mundo sorria. E como era lindo o meu plano! Mas, espera aí, como o mundo todo sabia do plano que era só meu? Olhei em volta e todos os papéis que me serviram de rascunho para a invenção do plano estavam pelos ares, pelo chão, na mão das pessoas que eu nunca vi, na boca dos cachorros da rua, tentando entrar pelas janelas das casas. O vento havia levado meus rascunhos. O plano já não era individual pois o mundo e eu compartilhávamos do mesmo, tínhamos um só objetivo, buscávamos o mesmo resultado. E eu sorria e o mundo sorria comigo.