sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Morreu, cara

Morreu. Jogado no chão, qualquer pacote caído de um caminhão, simplesmente morreu. E quem passa correndo acha que apenas dorme. Barba pra fazer, nome a zelar, reputação a manter, quem sabe? Talvez um filho ou dois, uma esposa e três amigos esperando no dia seguinte. Talvez deu um ataque e caiu ou sabia que ia morrer e deitou. Está ali, morreu. Sei lá, alguém pode dar falta. Ou não. Se ninguém tirar dali, vai feder. Podia gostar de sorrir, mas não importa, não vai sorrir mais. Acabou, morreu.

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Espera?

Aguenta firme. Isso é fase.
E a minha consciência me ensinando que perder faz parte. Tenho perdido tempo, tempo demais. Odeio saber isso. E tempo faz falta, viu? Eu, assim, me vendo presa enquanto sobra estrada, sobra vontade, sobra saudade. Tenho perdido chances. Raras. Lindas. É, perdi. E o que tenho ganhado pelo outro lado não se equipara. Seu sorriso, sua mão, seu colo... Não tenho visto, mas ganhei um copo. Não tenho presenciado, mas ganhei algumas notas. Que trocas são essas? Por Deus! E não me permitem escolher, não me deixam correr para o que eu quero. O que me sobra: gritar pedindo para que me espere. Alguém dissolve o que me prende, por favor.
Aguenta firme. Isso é fase.
E vão dizer que é drama, vão dizer que é show. Não veem o baile de coisas vazias que me desorganiza por dentro. Acho até que ando perdendo a cor. E tudo isso é falta. Tenho personificado cheiros, vozes, tenho tentado me fazer menos sozinha, menos sem você. Estou perdendo coisa demais, tudo vai, sobra nada. Aguenta firme. Tem me sobrado algumas frases, alguns ecos, e me alimento de lembranças. Não tenho quase nada nas mãos, mas coloquei sua vida no papel pra ter a certeza de nunca perdê-la.
E vão dizer que é fase. Pra mim, é falta.

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Mais perto

Foi quando eu olhei no espelho e me vi maior. Me percebi de fato, me reconheci. Há tempos eu buscava por isso. Reconheci meu nome, sobrenome e endereço. Identifiquei o que me fazia falta e foi então que me descobri. Sinto falta dos seus olhos e da calma que eles me trazem, assim, à galope, como se soubessem da necessidade que sinto disso. Sinto falta da festa repentina, do carnaval fora de época, da farra desgovernada que se aloja aqui dentro do peito quando é certo que sua presença é concreta.Você me faz bem, você me faz boa, você me faz buda, você me faz mantra, você me faz casa, me faz prece, me faz música, você me faz tanto, me faz tudo, você me faz falta ao mesmo tempo em que completa, você me faz justa, me faz o apenas e o total. Gosto de ser seu avesso, sua dança, seu cheiro. Posso ser seu extremo, seu limite, sua absurda loucura, mas sua. Lembra: sua.

domingo, 12 de maio de 2013

Você vem?

Seguimos assim, imortais, enquanto ainda é noite. Um dia há de amanhecer, eu sei que há de amanhecer, mas até lá seguimos imortais, seguimos infinitos. Dedos entrelaçados, olhos atentos mesmo que risonhos e vamos seguindo assim, vagarosos porque a noite acabou de chegar e não, não há porque correr. Desde que você veio me buscar, desde aquele convite sem mais nem porque, desde a simples vontade, me fiz noturna. Noturna, não escura e descrente, sem vida. Não. Me fiz noturna, livre pra correr em ruas vazias, livre pra cantar em vielas silenciosas, me permiti abrir os olhos e não ter que deixá-los entreabertos devido à claridade. Não importa se a face se enrubreceu, há o fogo que te queima e não se vê, é noite. Não importa se algum dia houver choro escorrendo pelo rosto quente, há o murmúrio que se ouve e se sente, mesmo que não seja visível, é noite. Corremos assim, leves, enquanto ainda é noite. Sentidos aguçados, medos vencidos, mãos dadas. Estamos lado a lado nessas ruas de sentido duplo, mão única não há, nunca houve. Podemos voltar, se quisermos, mas por enquanto vamos adiante, vamos em frente, apenas vamos. Apenas voamos. Vamos, é noite.