domingo, 27 de fevereiro de 2011

Condicional




De repente olho para os meus braços e... QUEM COLOCOU ESSAS ALGEMAS AQUI? Como eu me prendi a tantas coisas sem ao menos perceber? Como eu consegui viver presa dessa forma? Não que tenha sido totalmente ruim até hoje, mas não quero mais ficar tão presa, tão sem reação, tão dependente do que me prende. Também não quero a liberdade tão nua e crua como você deve estar imaginando, creio que não saberia andar tão livre. Quero poder escolher onde me prender, quando me libertar e essas coisas todas que a liberdade condicional me proporcionou um dia.
Arranque essas algemas de mim! Jogue isso longe! E que fique claro: peço ajuda apenas porque estou com as mãos atadas.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Pondo o dedo na ferida




Alguém, por favor, me explica o porquê de tanta subjetividade? Já não reconheço sentimentos sinceros, todos estão submersos em indiretas, em medo das descobertas, em medo de julgamentos. Tem um homem cantando umas músicas aqui e eu, na minha insignificância, gostaria de pedi-lo que me contasse para quem ele canta. Tem uma Lua lá no céu que eu não sei para quem brilha. Tem um coração ali no canto que eu sinceramente não sei por quem bate. Pois é, eu sei que pergunto demais às vezes, mas eu gostaria muito de entender os motivos das coisas. Você, por exemplo, por quem chora? Sente falta de quem? Tem medo de quê? Cansei de todas essas respostas vagas que me acompanharam durante a vida inteira, resolvi ser direta, curta e grossa. Mas serei assim esperando que façam o mesmo para comigo. Objetividade. E verdade, ao menos uma vez na vida. Eu peço: sem rodeios, meios termos e suposições. Prometo, também responderei tudo da mesma forma. Me pergunte e terá a resposta mais clara que eu conseguir dar, me pergunte tudo, esclareça todas as suas dúvidas, desenterre qualquer passado, qualquer medo, qualquer coisa que queira saber - e digo 'coisa' com o objetivo de ser o mais abrangente possível, sem nenhuma restrição. Me pergunte, mas o faça logo, antes que eu volte ao meu estado normal.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Ao nosso dueto

Não sei se mais alguém ouve a voz que eu ouço, se também se encanta. Sabe, tão suave, macia, me chega aos ouvidos, escorrega pelo pescoço, balança o coração que não sei se bate, faz cócegas na barriga. Quando está nos ouvidos, me diz coisas que me fazem sair de mim, me fazem esquecer até o que eu nunca lembrei de fato. Quando no pescoço, me beija com lábios quentes, me sinto amada. Quando no coração - ah! -, me desconcerta toda, nem sei o que sinto, o que sou, o motivo de ser. E quando chega a me fazer cócegas, sei que me quer bem, sorrindo. Como me encanta! Essa voz me eleva e leva a lugares que nunca tinha visto, que não sei onde ficam e nem seus nomes, mas me leva e lá eu fico, me deito, me deleito enquanto a ouço cantar pra mim.
Sinto que essa voz - tão segura, mas doce até demais - me faz um bem enorme. Me beija as feridas, cura as dores e a alma triste e os sonhos machucados. Ah, essa voz firme e grave, que ao falar promete me livrar de qualquer mal, qualquer pensamento ruim, invade todo lugar onde vou, onde estou, onde nem sei se fui. Só eu ouço? Parece impossível pensar que só eu me derreto com a chegada desse som no ar, quando não dá espaço a nenhum outro ruído. É com essa voz que eu perco o medo, levanto os braços ao céu e elevo a minha voz - ouça agora! - porque não há nada que me faça tremer, soluçar, vacilar, tropeçar, perder o tom e, mesmo que o perca, tenho em mim a segurança necessária para gritar o que quer que seja: o meu amor, o seu nome, os meus antigos planos, o que me faz chorar, os meus erros tão bem escondidos.
Talvez alguém ouça por aí a voz que me encanta, que maravilhosamente bem me acompanha, que acidentalmente eu encontrei e, por medo de sofrer, eu não abro mão. Talvez alguém sinta a vibração do ar quando estivermos com nosso dueto, cantando ao mundo o que há de mais belo e sincero, o motivo pelo qual caminho e o caminho que sigo. Benditos os ouvidos que, ao encontrarem com essa voz, também vejam o céu descer, também sintam esse perfume no ar e se percam nesse dom disfarçado de tom que me faz esquecer o que me abala.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Como um vício





Justo agora me deu vontade de abrir a janela! Eu aqui, me segurando para mantê-la fechada faz algum tempo, me segurando para não olhar o que há por trás, mesmo que eu já saiba, mesmo que eu já tenha provado, já tenha gostado, tenha sido dependente. Depois de tanto tempo me guardando, me acolhendo no aconchego do quarto, na cama quente, no cobertor peludo, me dá essa vontade louca de abrir a bendita janela!
Olha, minha retina já se acostumou com a luz opaca do quarto e essa luz já me faz bem - eu já aprendi a ver tudo e com detalhes, mesmo sem tanta claridade -, eu agora gosto da luz assim, tão pouca. Eu gosto, eu juro que gosto. O problema é que alguém atirou uma pedra na janela e o barulho, mínimo, quase que imperceptível, me fez querer olhar o que há de fora. Mas eu já sei o que há lá! Eu já sei que vou me cegar novamente assim que todo o esplendor da claridade passar. Alguém tranca essa janela, por favor? É como um vício do qual eu estou de abstinência já faz um tempo - mais de horas, mais de dias, semanas talvez - e que me faz ficar com os olhos semicerrados, atentos, prontos para atacar, agarrar, pegar para mim tudo isso que eu nunca tive e seria melhor mesmo que não tivesse.
A minha mão está coçando de vontade de abrir essa janela sedutora. Por Deus, parem de atirar pedras na minha janela! Eu não sei quem foi, mas não importa, contanto que pare. Não vê que também atira em mim? Pois bem, me atinge, joga no chão todo tempo em que estive limpa de qualquer vontade, faz do meu juízo cacos pontudos, afiados, perigosos - e o que pensar quando até mesmo seu próprio juízo te faz sangrar? Por Deus...
Se bem que eu já não sei se atiraram mesmo a pedra de forma tão eficaz a ponto de me deixar assim, tão sedenta do que me viciou. Pode ter sido pretexto, assumo. Meus olhos viciados decidiram fazer questão do que tento me abster, esse é o fato. Mas ainda peço, de coração, não atirem mais nada aqui por esses lados, nunca mais. Nunca mais. Nunca...