quinta-feira, 31 de março de 2011

Singelo pedido





Casemos! Não sei qual o tamanho da sua necessidade (talvez nem exista), mas pelo grau da minha, penso que poderíamos nos casar, assim, sem compromisso legal, sem papel, sem deveres. Casemos com as nossas almas, sejamos dependentes enquanto a dependência for salutar. Casemos agora enquanto o pedido tem fundamento, enquanto estamos sob esse céu de dar inveja, sob esses sentimentos os quais eu não sei nem definir. Casemos, casemos logo, antes que o céu perca um tanto ínfimo de claridade que seja, antes que as pessoas completem seus passos e pensamentos, antes que pisquemos nossos olhos, antes que perdamos a respiração ao nos dar as mãos - e antes que nossos dedos se entrelacem por completo. Colemos nossas almas com ímãs, com Super Bonder, mas colemos logo, casemos logo, que é pra nos pertencermos dentro do limite da nossa necessidade.

domingo, 20 de março de 2011

Linha de Chegada




Eu vim correndo atrás de um abraço, eu estava precisando de um, sabe? E talvez por você não ter notado isso no meu olhar risonho e disfarçado, eu me dei a liberdade de te abraçar. Eu vim correndo de casa, não queria ficar lá hoje, tudo soava um pouco parado demais. Daí eu vim, espero que não se importe. No caminho, eu estava pensando em me sentar aqui do seu lado, assim, e te ouvir falar sobre as coisas que você costuma contar de vez em quando, enquanto me olha nos olhos pra me dar a garantia de que é verdade e eu sempre sei que é. Eu vim correndo na rua, nem vi se tinha alguém olhando pra mim, mas é que eu precisava vir, eu precisava chegar e eu não chegava nunca. Colega (vou te chamar assim), apesar da pose, eu não me sinto bem. Estou como aqueles dias que nascem sem vontade, quando não faz sol nem chove e ninguém sabe que roupa usar. Tem um vazio aqui, sabe? E quando eu começo a querer preenchê-lo, a querer ocupá-lo, descubro que ele é maior do que eu pensava, então eu desanimo. Antes tinha medo, depois tinha euforia, agora não tem nada. De vez em quando algumas vozes ecoam, algumas luzes aparecem, mas no final continua vazio. Eu já tentei me desfazer desse nada tantas vezes! Nunca pedi a ajuda certa e isso só faz doer cada vez mais (sim, o nada dói!).
Já não via a hora de chegar! A noite, a cada instante, mais me fazia pensar que o caminho era longo demais pro tamanho das minhas pernas e, de fato, era, mas eu fingi não saber, tanto é que aqui estou. Desculpa se incomodo, mas se eu não te procurasse, não teria mais a quem recorrer. Eu lhe disse uma vez: preciso de você até mais do que deveria. Temo que não tenha acreditado. Mas saiba que fico feliz por estar aqui sentada ao seu lado, te ouvindo falar de todas essas coisas que não mudam, desse assunto que é sempre o mesmo. Uma vez eu te contei sobre um casamento que não deu certo, lembra? Te contei sobre alguns sonhos que eu nunca pude realizar, sobre algumas cores, alguns medos, algumas poucas certezas. Agora te conto sobre as minhas perdas: eu havia perdido um membro, agora me arrancaram o outro. Perdi uma parte do coração também (veja só que engraçado eu falar sobre isso com você). Eu vim correndo muito e vou ficar aqui até recuperar todo o fôlego. Eu tinha lhe trazido um presente, mas acho que perdi no caminho, desculpa?

sexta-feira, 11 de março de 2011

Anda, Maria!




"- O que você faz aí, pequena Maria?
- Vivendo..."


Não, ela não está vivendo. Está apenas fingindo não ser tão frígida como é. Ainda me intriga saber que ela fingia tudo o que dizia sentir. Como pôde? Sentimentos, quando existentes, são reais, dignos de total respeito. Pra que prometer o que não vai cumprir? Ele te trouxe flores, te trouxe alguns sorrisos provocados pelo amor (alguns ele escondia), te entregou medos, desejos, suspiros. Como pôde? Ele te deu verdades, ele tentou te fazer sorrir quando sua única saída era chorar - e conseguiu. Quem olhou nos olhos dele viu: ele era sincero e vivia pra te fazer sorrir. Agora para de mentir, Maria, você não está vivendo e não está deixando aquele pobre coitado viver! Corre, Maria, corre! Ainda há tempo pra tirar todos esses sentimentos escondidos de dentro do bolso - pegue alguns e pendure no pescoço. Mas se apresse, pequena Maria, porque o tempo não espera.